quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Ritos de passagem




O ciclo da vida em algumas tribos é manifestado por um canto, 
este será o marco da identidade individual da pessoa.
Quando se comemora um acontecimento, 
o canto é entoado, relembrado o apoio em si mesmo. 
Nesse rito, sua raiz, sua persona, 
estarão sempre sendo retomados 
para o momento primordial do ser,
sua verdadeira identidade. 
Façamos a mesma interpretação 
para essa grande astro-nave chamada terra, 
costumo pensar que qualquer ação é uma simbiose, 
ela não está de maneira aleatória, 
está intercalada em uma rede de pessoas e fatos. 
Sendo assim, a vida se move 
tendo o seu eixo a individualidade de cada ser
na simultaneidade com o meio. 
Logo o micro e o macro universo 
tão bem definidos, se permeiam numa relatividade, 
gerando as interfaces dos acontecimentos. 
Logo somos: Maria, Cristina, Luis, 
 Juliana, Miguel, Paula e toda a fauna, flora, estrelas 
e planetas aparentemente absortos. 
Nesse único momento o qual não volta, o agora,
nesse complexo anelar 
no qual estamos envolvidos, 
não veremos mais as mesmas passagens. 
Mas de alguma forma escondida
haverá sempre o perfume e sua vida.





segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Volátil (música para Simone Sil)







Fez um risco espiralando como luz que faz brilhar.
Torna vida os momentos quando calma sempre vem,
suspirando o seu medo num desprezo inocente,
boiando, volátil. solitária, qualquer. 
A lua vira, fica doida, seu fetiche está no ar... 
O acaso é seu destino como quem sabe o que quer,
suspirando o seu medo num desprezo inocente,
boiando... volátil...solitária qualquer.

domingo, 10 de agosto de 2008

Cotidiano (para minha família)


Quem não sente prazer
em estar com sua família.
Aconchegar-se na sala
com os amigos,
e ter uma vida de domingo.
Organizar, amar, perdoar
ir além das coisas aparentes.
O simples dia
é um dia a mais de possibilidades.
Ver um bom filme,
apreciar gente.
Inspirar-se!
Uma rotina
que pode ser compartilhada
com ternura quando o íntimo
está sossegado.

sábado, 9 de agosto de 2008

Rupturas

















Quem nunca fantasiou com uma boneca?
Esse elemento que envolve
inocência e rebeldia.
Furar os olhos, arrumá-las,
cortar os cabelos, pô-las para dormir.
Levantar as saias, ver se tem febre,
despi-las.
Com as bonecas pode-se tudo,
elas só olham e não falam nada,
escondem secretamente
os mais íntimos sentimentos,
são ótimas companhias.
A molecada abusa da imaginação,
vai a forra com tanto sentimento
rebelam-se nas brincadeiras.
é o tempo em que os dias
são preenchidos com muita diversão,
numa relação espontania com os desejos,
formando relações de vida,
misturando rupturas, dor e beleza.
Nas delícias das descobertas
onde o medo aguça a percepção.
Vivemos com prazer a intervenção:
das coisas, do meio e da quebra de valores.

Nunca


Corríamos separados na chuva
entre dois ônibus.
A cada semáforo a gente se via.
Levantávamos os braços em sinal de reconhecimento.
Era passiva nossa espera,
escorregávamos nas poltronas.
O ônibus estacionou, nós saltamos,
frente-a-frente a gente se viu,
ficamos pálidos em meio a multidão.
Nos sentimos únicos e calados
colamos os corpos.
Observamos nossas vidas num instante.
Podíamos fazer sexo,
mas engolimos essa,
coisa do urbano neurótico em que vivemos.
Tocamos por um momento
as nossas faces e amadurecemos
ao partir deixando para trás o encanto.

Dança espanhola

Um rito, um momento,
uma dança espanhola cravada no tempo,
um portal com sua senha própria:
"siga o coelho",
abertura de um caminho real.
Uma dança espanhola, uma fogueira ateada,
do estopim apenas um tocar de dedos
e já toda a sensualidade
incontrolada vindo à tona.
Dançamos além do horizonte
de nossa linha imaginária.
Aquecemos os corpos
e fundimos o destino.
Sobre essa dança ritmada.
Não cabe culpa, não cabe juiz,
mas a liberdade de estar apaixonada.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Leveza (para Clarice Felipe)



Passava por sua janela



uma brisa fria



que a deixava introspectiva



e angustiada.



Contava junto a sua família



as aventuras de seus planos,






sentia com isso poder



controlar suas paixões.



Mantinha em sua leveza,



surpresa que se via por seus olhos



boiando em emoções insondáveis.



Aprendeu que na vida há valores



que não se desprendem da tortura



ficando colados na memória.



Extasiou-se irreversivelmente



na experiência do descontrole



do primeiro contato,



assim fez perdurar eternamente



todo o envolvimento da vida.



Como se a leveza das plumas



em vestido de festa



fosse toda a contrariedade



real das coisas que ficam.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Respiração























Suspirava respirando dentro de um invólucro apertado. 
O novelo se contorcia arredondando os braços.
As cores mãos em mãos num arcobaleno 
bailavam em movimentos multicor cítrico. 
O equilíbrio perfeito, pausado no eixo de partido, 
ora siguezagueava brasileiramente numa dança monocórdia
A cultura além fronteira brincava 
em minha pátria como páprica excitada. 
a respiração já não mais apertada corria livre, 
sem métrica. Livre, livre como borboleta 
perfeitamente frágil, em sua tranquilidade azul, 
a mutação congênita tramitava silenciosamente, 
figurando dentro e fora a leitura da respiração,  
incorporada na movimentação, 
que abrangia as cores e todo o espaço afim.

A festa



Os convidados festejavam em suas fantasias.

As tribos vieram de todas as partes

com seus representantes etéreos.

Sentavam-se num ritual de igualdade,

dispondo-se à jogos de feitiçaria.

A música colorida deu o tom da dimensão.

A dança mediana surpreendia.

Na circunstância da noite

todos se deram aos ritos da igualdade.

Amanheceu eles se diluíram,

nada mais complexo do que se vestir de homem comum.

Amanhecer


Desculpe se arrombei as travas de sua porta
e toquei alto o seu piano,
se colhi suas flores antes do tempo.
Desculpe se hasteei minha bandeira
de cetim cor de carne
e atravessei o pátio com minhas incertezas.
Desculpe se tenho uma leviandade material dissimulada,
se meus olhos refletem loucuras
e a dor vomita o exercício do empata foda que nem Bach mais relaxa.
Desculpe se meu espírito perambula por sua janela,
como cão que voa em seu telhado,
lambendo seu vinho escorrido sobre a mesa
comendo suas migalhas caídas no chão.
Desculpe se escorreu pelos seus ouvidos a minha voz tensa,
é que o relógio se perdeu no tempo
pelo descompasso dessa minha desilusão.
Sei que ao amanhecer esta noite eu ascendi,
como ascende uma lâmpada
e tentei destravar o silêncio,
já que nossos olhos não se vêem,
a minha língua não lhe sentiu
e o meu corpo travado ainda dói.

Rumo norte



Veio em visita, sempre deixou os sapatos em casa,
partiu deixando pegadas.
Não sabia que doía tanto a saudade.
Encaixotei minhas coisas,
e tranquei a porta, e também parti.
Os sonhos se fizeram névoas.
Busquei em mim conter os arrependimentos,
foi fácil, nunca fizemos contrato,
pois no amor, penso eu, não há contratos.
Consegui abrir as caixas
depois de algum tempo
e seu cheiro ainda estava lá.
Fui na maternidade, na floricultura, nos bares,
na biblioteca, na vila, na praça,
todas as cidades que visitei,
tinha sua nítida presença cravada em mim.
Aprendi a ser Sherazade e diluir o tempo em histórias.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Cai neve mas faz a mesma lua (para Chico e Neuza)


Cai neve mas faz a mesma lua,
talvez a mesma água, talvez a mesma brisa, recados daqui.
O que é o sentimento de um estrangeiro?
A solidão, a tristeza, o reconhecimento de sua pátria na distância?
Índios, talvez também não sejam nossas verdades brasileiras.
Aqui é assim, estátua de deus aberta, luzes que ofuscam,
pobreza desolada que assusta, ouro de tolo!
Qual é o verdadeiro lugar?
As Moiras na gruta escura aguardam o futuro tecendo os fios da vida,
sem contar nada para ninguém.
O pensamento lá fora toma a dimensão do mundo,
num sopro tudo é neve, tudo é vento, um deserto de gente.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

TRAVAS DA GAVETA


Boa noite!
Cheguei tarde?
É que tive problemas com as travas da gaveta,
no encontrar o baton que coloriu minha boca a noite passada.
Desabotoada me sinto, tanto, que minha pintura íntima escorreu pela cidade.
Boa noite?
Tentei engajar minha lucidez antes da sua,
dentro do meu corpo miudo
compactuado com a brutalidade deliberada de sua crueza.
Boa noite!
Esperei de você a presença,
para fechar o meu vestido,
e me alargar no vão entre o céu e o inferno
que conduz a tranquilidade a minha alma.
Boa noite...

HERÓIS (para Flávio)

Existem pessoas de diferenes tribos, pessoas heróis, pessoas estrelas. Existem pessoas que vivem sem sombra, sem imediatismo. Pessoas que se mantêm sob crença de suas idéias. Pessoas que não se defendem, vivem... Enquanto seres humanos precisamos de crenças. Pela lógica do pensamento comum a cabeça é o guia, no entanto o que dignifica a pessoalidade, é o princípio de cada um, o cumprimento dos contratos estabelecidos. Os verdadeiros guerreiros centram sua luta por seus objetivos de vida, gerados por contrato de fidelidade, esses se tornam eternos. Que a força máxima que rege o universo possa proteger esses grandes guerreiros.