quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Respiração























Suspirava respirando dentro de um invólucro apertado. 
O novelo se contorcia arredondando os braços.
As cores mãos em mãos num arcobaleno 
bailavam em movimentos multicor cítrico. 
O equilíbrio perfeito, pausado no eixo de partido, 
ora siguezagueava brasileiramente numa dança monocórdia
A cultura além fronteira brincava 
em minha pátria como páprica excitada. 
a respiração já não mais apertada corria livre, 
sem métrica. Livre, livre como borboleta 
perfeitamente frágil, em sua tranquilidade azul, 
a mutação congênita tramitava silenciosamente, 
figurando dentro e fora a leitura da respiração,  
incorporada na movimentação, 
que abrangia as cores e todo o espaço afim.

A festa



Os convidados festejavam em suas fantasias.

As tribos vieram de todas as partes

com seus representantes etéreos.

Sentavam-se num ritual de igualdade,

dispondo-se à jogos de feitiçaria.

A música colorida deu o tom da dimensão.

A dança mediana surpreendia.

Na circunstância da noite

todos se deram aos ritos da igualdade.

Amanheceu eles se diluíram,

nada mais complexo do que se vestir de homem comum.

Amanhecer


Desculpe se arrombei as travas de sua porta
e toquei alto o seu piano,
se colhi suas flores antes do tempo.
Desculpe se hasteei minha bandeira
de cetim cor de carne
e atravessei o pátio com minhas incertezas.
Desculpe se tenho uma leviandade material dissimulada,
se meus olhos refletem loucuras
e a dor vomita o exercício do empata foda que nem Bach mais relaxa.
Desculpe se meu espírito perambula por sua janela,
como cão que voa em seu telhado,
lambendo seu vinho escorrido sobre a mesa
comendo suas migalhas caídas no chão.
Desculpe se escorreu pelos seus ouvidos a minha voz tensa,
é que o relógio se perdeu no tempo
pelo descompasso dessa minha desilusão.
Sei que ao amanhecer esta noite eu ascendi,
como ascende uma lâmpada
e tentei destravar o silêncio,
já que nossos olhos não se vêem,
a minha língua não lhe sentiu
e o meu corpo travado ainda dói.

Rumo norte



Veio em visita, sempre deixou os sapatos em casa,
partiu deixando pegadas.
Não sabia que doía tanto a saudade.
Encaixotei minhas coisas,
e tranquei a porta, e também parti.
Os sonhos se fizeram névoas.
Busquei em mim conter os arrependimentos,
foi fácil, nunca fizemos contrato,
pois no amor, penso eu, não há contratos.
Consegui abrir as caixas
depois de algum tempo
e seu cheiro ainda estava lá.
Fui na maternidade, na floricultura, nos bares,
na biblioteca, na vila, na praça,
todas as cidades que visitei,
tinha sua nítida presença cravada em mim.
Aprendi a ser Sherazade e diluir o tempo em histórias.