quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Moribundo

O moribundo não desfalecia de vez
teimava em sustentar sua oscilação cardiáca. Olhava para cadeira
preza no tempo,
- passado, presente e futuro.
Surtado na ira de seu desencanto.
Fragelava-se interpretando seu inconsciente.
A senhora dona da ingênua desgraça,
Nair Morais, era cativa
da terceira cadeira,
congelada e renovada
na esperança
de um mundo particular feliz.
A mulher invisível,
paixão frágil do abandono,
que sustentou, não apenas por um momento,
mas toda a sua vida.
Obscecado pariu sua morte,
se fechando na intersubjetividade
de suas sensações, - calou-se!

Marcas na areia

Cheguei a pensar que os fatos da vida
fossem como escritos na areia e que o mar os levassem.
Após cada tormenta desse mar chamado vida
eu esperava que a tempestade levasse suas marcas embora,
mas a natureza é sábia, tudo na vida se transforma, já compreendi.
Não tenho mais o medo destes tais sentimentos,
já os acomodei reescrevendo histórias pela areia.

terça-feira, 18 de novembro de 2008

O silêncio do gato

Não quero nada que avise o tempo.
Não quero muito que se possa o agora.
Quero querer agora um instante e nada.
Nada...
Silêncio....
Só eu mesma,
cismada
sozinha
por entre objetos.
O gato balançando o rabo,
o silêncio dos seus olhos calmos,
o nervo do seu rabo duro,
o suave de seus olhos loucos.
Avise o tempo que engano,
o silêncio que acaba,
e a preguiça que acalma.

Trama

Sob a fragilidade aparente
movia-se o ímpeto do condutor.
O condutor armou sua trama
ao gosto da envolvida
e como numa teia de viúva,
aprisionou o pequeno inseto
num kama-sutra.
Projetou em detalhes
o seu desejo,
enlameuou-a com mel,
tocou cada ponto de êxtase,
colando delicadas flores em seu corpo
e então ... comeu-a.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

O martelo e a bigorna


O artista forja a chapa fria batendo
com a bigorna para moldar o metal.
Para ser um forjador de metal
tem que ser preciso,
nem forte, nem fraco,
sulcar na medida o imaginado
ou contar com os imprevisto
das grandes dificuldades.
É a arte e o criador
num momento único em simbiose plena.
O tempo urge dentro do inanimado,
do universo criativo e amoldam o fato.
Entre a bigorna e a chapa:
o tempo, o ouvido e o sentimento,
formando uma trilogia perfeita
necessária do arrefecimento
e o calor retomado pela pólvora
e o universo aquecido pelo movimento preciso.

Eu e minha consciência negra



Eu sou negra,
tenho sangue negro
com mistura europeia,
acidentalmente de pele branca.
Somos além da aparência
temos que nos enxergar
antes de tudo como ser humano.
O relacionamento com as pessoas
deve se dar pelo respeito
e pela consideração ao outro.
No entanto se reconhecer é o melhor caminho,
antes de qualquer processo.
O meu eu não nega minhas raízes.
Nessa minha ancestralidade
sou uma menina aprendendo
a me enxergar através do espelho do outro.
Viva todas as raças!
20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra!

sábado, 15 de novembro de 2008

Caixa de areia

Uma caixa de areia, um cachorro, foi tudo que comprou. Saiu pela manhã com o desejo imenso de rever o seu grande amor. Como era um dia de outono, pensou em ter essa atitude para reformular seu comportamento, selou sua carta e beijou sua medalha da sorte, privilégio de poucos ter amor e fé - pensou. Teve medo do futuro, não sabia muito bem compartilhar todo o desenrolar da história, sofreu. Acalmou-se após uns goles de conhaque, pensou que não tinha idade para se emocionar e nem tampouco desacreditar. Lembrou dos movimentos de épocas e ficou sossegado, por tudo que já tinha acompanhado por gerações. Seu costume pela solidão foi desencadeado por seu jeito definido de como gostava das coisas. Acreditou que aquela carta transformaria as dúvidas em respostas verdadeiras. O tempo que ficou consigo tinha lhe dado um composto de "curtição" que o deixava diferenciado - refletiu. Teve medo sobretudo porque, aquela manhã era outono, esse clima o deixava terrivelmente introspectivo, o seu esforço seria redobrado, em tomar uma atitude inversa do que já estava acostumado, a ponto de se preocupar com o costume de ficar só. Por outro lado, nessa vida e morte há fatos que não se escolhe - considerou. Caminhou naquela manhã mais leve, na certeza que havia tomado um caminho de volta, o da reconciliação -esperou. Por algum motivo a carta não chegou ao seu destino, por algum motivo o tempo passou vagarosamente, por algum motivo tudo se encaixou como sempre, na conspiração do universo no descontrole do destino. Sobre todas as coisas na mesma noite ocorreu-lhe uma canção em seu espírito, do incômodo de estar exageradamente em si. Beijou o cachorro e o deixou na estrada e da caixa espalhou toda a areia por toda a extensão do rio num abandono de si mesmo. A noite era de lua cheia, e percebeu o quanto as estrelas o sensibilizavam. Viu os grãos de areia tomando novo rumo espalhados à margem do rio caindo na correnteza. A espera o envolveu novamente nas coisas simples da vida. Retomando o que havia deixado para trás. Aprendeu com tranquilidade um novo quebra cabeça, no silêncio dos tempos desiguais das pessoas.

sábado, 8 de novembro de 2008

Pólvora


Os risco em fogo circulava
o conteúdo para além do limite.
Controlar pode,
como pode também contornar
para se chamar o inconsciente,
como um rito xamã.
Eu não estou só, arrisco e brinco com o tempo,
a chapa galvanizada me chama.
Tento dormir
mais suas faiscas me acordam
por entre os xamãs,
despertam minha mente
como uma criança buscando
um novo brinquedo e seus segredos.
Eu conto no seu ouvido enquanto a pólvora canta
vai marcando o abstrato sensível.
Eu não tenho medo
tenho é algo incontido
e os riscos que vão além do contrato
eu os percorro com todos os ritos.