terça-feira, 22 de setembro de 2015

Cale-se

Em nenhum momento passou mais que o talão do cheque, e o número da conta. - Para que? Ora veja, para poder saciar as expectativas, e olha, ainda teve a coragem de falar de amor.
Era o piso da sala de mármore que não se descasca, e também aquele aplique na parede de papel europeu, custaram os olhos da cara.
Essas eternidades materiais que rodeiam a humanidade são tão efêmeras, os sete pecados capitais estão nos pólos extremos, os excessos nascem nos olhos.
Mas e a ética? É só sentar no agora, resolver tudo cara a cara, olho no olho, com um monte de papeis empilhados a frente que insistem em ver o lado mais favorável das coisa, mas sem querer se justificar, só na retórica.
A partir de agora, nem passe por mim, disse, não fite seus olhos sobre mim, pois mesmo com toda as frustração, não há entrega. 
Todas as noites enchendo de vinho e psicotrópicos, a entender o que transcende com as linhas dos hemisférios imaginários, entre a tênue vingança de uma verdade escondida, num clichê barato.
Veja, não há educação sentimental, a luz não esteve no nascimento, era noite, e o viveiro estava repleto de almofadas de cetim com bordados de sesmarias, coisas de família.
Agora a mão escorre pela cabeça, como um mimo, pedindo colo, o acento de cetim vermelho, com aquele tapete de veludo para combinar, tem um vazio tão grande.
Não sei para onde vai a escada, mas deve ser para o alto, para a luz, a essência precisa de conceitos reais e a realeza as vezes ocupa os melhores lugares na platéia.
Os palcos são apenas lugares,  pois quem os ocupa? Mesmo que seja dentro ou fora não há o menor sentido de direção, os sentimentos estão além das quatro paredes. 
Por favor, cala-se e beba isso, tomei mais um gole, virei de lado, e, uma lágrima escorreu sem esforço.