segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Garantia de vida


As janelas estão dormindo,
nas ruas passam carros devagar.
Eu sustento minha vida
como uma bailarina na corda bamba.
Mas que bom que minha luz não apagou
e ainda sei dançar sob a luz da lamparina.
O meu pulso mantém meu corpo aquecido
e eu somente ouço o compasso do meu coração
que ainda pensa nas possibilidades
como parte da minha inconsequência,
pois nem tudo eu sei.
Como garantia de que não estou sumindo,
observo as libélulas, pra ver os círculos
se abrirem nas xícaras de chá,
que mantém meu pulso aquecido.

domingo, 27 de dezembro de 2009

Insônia




Meus vizinhos
devem sofrer de insônia,
como eu.
A noite enquanto aqueço
meu chá,
eles estão lá,
batendo panelas.

sábado, 26 de dezembro de 2009

Delicadezas




Friso vermelho entre nossas línguas, olhos delicados,
sua fortaleza toquei-a esta noite,
registrei seu corpo no meu,
fritei meus estalados seios em tuas mãos, fui você.
Aquecemos nus, perseguimos os corpos
entre tantos mortos irreconhecíveis.
Calmamente jantei
o momento esperado para não te violar,
para não abordar-te suspeito.
Repousei minha imagem num sólido pertence,
senti-me feliz em teus traços
e me conduzi suave ao teu alcance.
Tornei o imprevisto ao curso certo,
apreciei suas costas, seus defeitos,
na delicada pluralidade do momento.

sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Beijo na nuca




Beijo na nuca.
Permites? Com licença.
Beijo na nuca de lábios secos.
Provoca? Se sente.
Beijo na nuca tchau rápido.
Tem dose?
Não, é tiro dormente.
- Dormente ou quente?
Oscila.
O Beijo na nuca é seu só seu.
Mas não viril,
possesso, escandaloso.
É justo, algo que cultuo no íntimo do sempre seu.
Beijo na nuca – doido,
intermitente peso de papel.

Abandono











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Atravessei o pátio
com suas risadas
que se difundiam em sinais de outono
e olhares de arrependimento.
Tipicamente me vesti
sob olhos comuns de antevéspera.
Almocei na companhia de algumas formigas
que silenciosamente sapateavam em meu prato.
Esqueci-me no elevador dizendo:
- não tenho tempo... não tenho tempo...
Poderia esquecer tudo mas a respiração
fazia uma pulsação frenética,
o corpo recusava qualquer gesto de espera
e mais freqüentemente eu me entregava.