sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Morada



Intensidade por vezes
é parceira e por vezes vazia...
Não conheço ninguém 
que não tenha sentido o vazio delas...
Pode ser também a morada dos exageros
ou até mesmo a ruptura das travas.
Ainda bem, porque a loucura
mora exatamente no eixo da soltura
e a intensidade as vezes lembra
o vazio depois do parto,
que depois de longo exercício se recolhe.

Boa vontade


Que os olhos de quem vê
seja no mínimo a solidão 
daqueles que não podem aquecer o coração,
por conta da alma vazia.
Que a vida possa ser sentida como uma luz calma
que surge de mansinho pelo sol da manhã
e cai tranquila por trás das luzes artificiais, frias,
da urbanidade que construímos.
Para que estas nunca se enganem
e assim velem seu corpo sossegado, ignorante.







Mãos de Ariadne



Pensei que o tempo fosse quadrante lógico.
quando vi seus cubos mágicos que empilhavam
com maravilhas de bonecos em mãos.
Descobri então nas pontas dos dedos fios presos
e os espirais se contorcendo pra sair por aí.
- Porque faz de conta que me povoa?
Como gentes nos corredores em fila,
como água em cima dos seixos,
repetindo, repetindo e brincando sobre mim.
É uma história escrita com fumaça.
Num sopro a saudade veio,
divagando por labirintos,
no mundo dos paralelos,
nos infernos de Dante.
Nunca um segundo foi tão eterno
e o tempo tão curto.
- Quem puxa o fio do tempo das mãos de Ariadne;
pra que se perca o Minotauro?

Reconhecimento





Uma criança brinca de cabra-cega,
ela enviesa com o tato os amparadores,
Sabe que depois de abstrair todas as sensações
e encher seu peito pelos achados
pode caminhar com passos mais largos, 
mesmo com os olhos fechados,
depois do reconhecimento total da superfície.
Já aqueles que não ousam caminhar
pelo desconhecido
nunca ultrapassará o medo
e se sentirá restrito
ou preso num novelo
sem sentir o seu começo,
seu meio
e o sem fim.