domingo, 24 de maio de 2015

Translúcida (poema dedicado a minha amiga Cleuza Santos Almeida)





Há pessoas que nascem com um
a genética distinta,
pode a condição de vida a limitar em compartimentos,
etiquetas e citação de regras,
mas como uma planta daninha, aflora.
Para estes subjugados pela ditadura da ordem,
qualquer fresta é um sinal de liberdade.
Controlar é impossível, já que o estado de felicidade,
transmuta a própria consciência em vigor de juventude.
O perigo está em apenas gostar:
do amarelo, laranja, vermelho, das cores quentes,
em seu corpo de estrelas;
única medida gravitacional que às orientam.
As ilusões são os caminhos,
estes seres não se abalam com seu entorno,
já que seu brilho dissipa a escuridão.
E da vida, apenas uma regra: acreditar no impossível,
que são estes inebriante raios indomáveis,
uma eletricidade de alta voltagem,
que as conduz para além da estética,
à integridade absoluta do ser.
Pois desta vida: se há salvação?
Salvam-se apenas os que acreditam em si mesmo.

Sem reservas




Desculpe-me se não existe mais romance em mim,
se a noite dorme em meus braços toda vez
que eu penso em sair.
Sabia que há horas sem fim em meu relógio
e nem mesmo sei o peso que isso tem?
Deve ser porque dei tempo demais pra mim,
e descobri que ele é um ladrão de corpos.
O que é estar pronto?
É não cometer nenhum deslise,
ou é acontecer em cada segundo?
Se você quiser ter um bom romance comigo
tem que estar disposto em pular o cercado
e olhar para a lua sem piscar,
pois agora é tarde.
Eu já não posso segurar o vento,
só posso observar as folhas e o céu cinzento.
Porque ir para o lado mais fácil
é roubar o relógio da mão do tempo,
e lamber as cerejas do bolo,
ou ainda esquecer a falta que tantas coisas
faz em mim, como a coleção de palavras
que guardei sob a pele, quando no ultimo outono
eu desfolhei no vento com tanta sinceridade.
Não me guardei em potes como conserva,
apenas vivi todo o amor que poderia sentir
sob o tempo que fiz de mim sem reservas.

Mortos vivos



Atenção população:
morre a cultura, a educação!
Morre quem mais lhe dá vida.
O que será da humanidade,
se não houver a arte?
A liberdade vivida na subjetividade 
é o que mantêm a lucidez, o equilíbrio,
sem elas seremos mortos-vivos!

Amados


Caminhada



Escolhemos os caminhos 
que o sentimento por algum motivo 
tenta entorpecer ou tornar realidade. 
Este é o mistério, 
quando nos dispomos a desvendar.
Damos um passo à frente de nós mesmos,
quando apreciando a caminhada.

O vazio


Tocava-me numa frequência baixa, 
com fins expressivos.
Utilizava sempre uma estrutura repetitiva, 
um rito de fé religiosa, 
até me chamava de santa.
Sem correntes 
mantinha-me em sua cama.
Foram anos sem troca.
Ocidental ferramenta:
entre a agulha e um novelo de linha sem ponta.

Atentado contra o pudor





Estas mãos metafóricas,
sinestésicas, 
deixam apenas um sim ...
deve ser o blues baby. 
Deve ser o blues acetinado 
que toma os sentidos. 
Sei tudo sobre as delícias desta vida, 
quando o som toca as cordas 
e me acorda por dentro. 
Ainda bem que ultrapassa 
os holofotes, ainda bem 
que neste acorde 
os gatos viram pardos 
e se misturam na noite. 
Não há como distinguir os afetos 
quando colocados na trama 
da cama de cada corda. 
Um roronar de arrepios: 
- o que pode haver mais que este afeto? 
Um desapego total, 
uma entrega silenciosa 
a intimidade posta à prova, 
assim é um blues, baby ... 
assim é o blues...

O amor







Quando o amor acontece ele vem aos passinhos 
para não provocar uma revoada aos pombos. 
Se você precisar de um tabuleiro de cartas marcadas, 
ai não tem graça, perdeu o seu brilho. 
Quando sua estrada escolhida, for a mesma da outra vida, 
então não será preciso viajar nas paralelas, 
e sim, unir as mãos e caminhar juntos, no mesmo sentido. 
Você pode rodar o mundo inteiro buscando pela pessoa, 
mas ela pode desde sempre estar ao seu lado, 
porque os olhos do coração não precisa de bússola, 
de relógio ou carros, ou de grandes eventos,
ele precisa de pulso, de vida, de coragem,
porque ser feliz precisa de entrega.


Uma linda mulher



Não posso colocar aqui um comentário como:
bela, maravilhosa, radiante .... etc ...
Porque já me expressei assim antes. 
Pela primeira vez, as palavras saíram correndo de mim. 
O estômago, a cabeça, os batimentos, 
a respiração de repente se misturavam em arrefecimentos instáveis. 
Fiquei simplesmente paralisada, 
demorei alguns segundos para retomar a consciência 
no tempo atual, o relógio se perdeu no tempo das memorias, 
só então após alguns segundos, depois de um verdadeiro hiato, 
eu retomei e disse a mim mesma: 
- Como um momento pode ser tão terno, a visão tão sublime. 
Encantadoramente, caminhando, vinha ela toda sorridente,
como quando em seus primeiros passos
pedindo-me para lhe dar a mão. 
Nada pode apagar a emoção que senti, tremi. 
Desculpe-me mas precisei parar para dar uma respirada. 
Foram tantos anos juntas, que sei lá, 
pensei que sempre seria assim. 
Suas roupas me enganaram,
essa sua forma casual de ser,
tudo tão delicado que nem reparei, 
refletindo agora, à bem da verdade, eu me neguei a ver. 
Aí vem você, toda de branco sobre o tapete vermelho, 
tentando esconder-se nos trejeitos de menina, 
mas que toda sua incontrolável beleza, 
veio assim denunciada em seu batom vermelho, 
desta vez não deixei-me enganar, 
estava sim, perplexa, diante de uma linda Mulher.