sábado, 9 de agosto de 2008

Rupturas

















Quem nunca fantasiou com uma boneca?
Esse elemento que envolve
inocência e rebeldia.
Furar os olhos, arrumá-las,
cortar os cabelos, pô-las para dormir.
Levantar as saias, ver se tem febre,
despi-las.
Com as bonecas pode-se tudo,
elas só olham e não falam nada,
escondem secretamente
os mais íntimos sentimentos,
são ótimas companhias.
A molecada abusa da imaginação,
vai a forra com tanto sentimento
rebelam-se nas brincadeiras.
é o tempo em que os dias
são preenchidos com muita diversão,
numa relação espontania com os desejos,
formando relações de vida,
misturando rupturas, dor e beleza.
Nas delícias das descobertas
onde o medo aguça a percepção.
Vivemos com prazer a intervenção:
das coisas, do meio e da quebra de valores.

Nunca


Corríamos separados na chuva
entre dois ônibus.
A cada semáforo a gente se via.
Levantávamos os braços em sinal de reconhecimento.
Era passiva nossa espera,
escorregávamos nas poltronas.
O ônibus estacionou, nós saltamos,
frente-a-frente a gente se viu,
ficamos pálidos em meio a multidão.
Nos sentimos únicos e calados
colamos os corpos.
Observamos nossas vidas num instante.
Podíamos fazer sexo,
mas engolimos essa,
coisa do urbano neurótico em que vivemos.
Tocamos por um momento
as nossas faces e amadurecemos
ao partir deixando para trás o encanto.

Dança espanhola

Um rito, um momento,
uma dança espanhola cravada no tempo,
um portal com sua senha própria:
"siga o coelho",
abertura de um caminho real.
Uma dança espanhola, uma fogueira ateada,
do estopim apenas um tocar de dedos
e já toda a sensualidade
incontrolada vindo à tona.
Dançamos além do horizonte
de nossa linha imaginária.
Aquecemos os corpos
e fundimos o destino.
Sobre essa dança ritmada.
Não cabe culpa, não cabe juiz,
mas a liberdade de estar apaixonada.